Diários de ônibus, trens e até caminhão...

A ideia de um blog surgiu da intenção de mostrar meu Diário de Bordo a todos os amigos e da impossibilidade de fazê-lo com a rapidez que eu gostaria. Vai ele agora entrar na rede!

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Local: Divinópolis, MG, Brazil

17.10.05

Dia 6 – quarta-feira 13/07


- Salta-La Quiaca, Humauaca, La Quiaca-Villazón (Bolívia), Villazón-Uyuni -

Batendo papo ali no chão apareceu um boliviano vendendo colares, pingentes, pedras trabalhadas e pulseiras. Sentou-se conosco e era mais um que matava tempo de espera pro ônibus. Pegamos boas informações sobre a Bolívia – especialmente sobre as revoltas que aconteciam – e ficamos mais tranqüilos pra seguir viagem até lá. Mais tarde ficamos sabendo que ele e seus amigos pegariam o mesmo ônibus que o Uans e eu – pra San Salvador de Jujuy – e ele nos pediu pra comprar alguma coisa pra ajudá-lo a pagar a passagem. Cada um comprou uma lembrança e ele agradeceu muito. Entramos às 5h30 no ônibus e literalmente apagamos depois daquela noite em claro. Mal vi nosso amigo boliviano descendo em Jujuy, olhei pela janela e vi um terminal como qualquer outro, mas já com um paredão gigante de cordilheira atrás dele e desmaiei de novo num sono profundo que só foi interrompido com uns cutucões sutis do Uans que levantavam minha perna. Acordei com o ônibus já na famosa Quebrada de Humauaca. Impressionante! Todos os demais no ônibus comportados assistindo filme no DVD e nós dois revesando os olhares entre um lado e outro das janelas pra ver os paredões de várias cores que ladeiam a estrada até chegar à Bolívia, tudo isso com o rio que acompanha cada hora de um lado da estrada.

Era só o começo da aventura toda. Chegamos a La Quiaca, última cidade da Argentina já a uns bons metros de altitude, perto da hora do almoço. Daí em diante, só frio. Pegamos as malas e fomos direto pra fronteira. Agora sim, passamos sem problemas (tirando a demora absurda amenizada pela furada da fila) e pegamos um táxi, já em Villazón (Bolívia), até a casa de câmbio (cada dólar valia 8 Pesos bolivianos) e, em seguida voando até a estação ferroviária. Os ônibus dali demorariam um século nas estradas de chão pra chegar a Uyuni e o único e, por isso, disputado trem do dia era a única esperança. Chegamos à estação às 13h e a bilheteria abriria às 14h. A fila já estava grande. Preferimos nem pensar na possibilidade de dormir naquela cidade depressiva sem passagem de trem! Fizemos as contas e vimos que precisaríamos de mais pesos bolivianos pra comprar os bilhetes – dá-lhe Fabiano correndo (literalmente) de volta pra casa de câmbio antes que abrisse a bilheteria. Segundo informações em site oficial da internet, a cidade está a 3442m acima do nível do mar. Mas corri 4 quarteirões como se estivesse na praia, e acrescente-se o estômago vazio e a noite mal dormida, e de repente, no quinto, a rua à minha frente já estava escura e tremida, minha cabeça pulava a cada passo da corrida e o ar parecia simplesmente não entrar no pulmão. Levei um tempo pra conseguir parar a corrida sem cair e passei a apenas andar muito rápido. Troquei o dinheiro e cheguei à estação quando a janelinha do guichê tinha acabado de ser aberta. Fomos obrigados a comprar um bilhete em cada classe pela falta de vagas, mas já estávamos eufóricos de alegria de não ser obrigados a dormir ali. Isso porque os argentinos que estavam na nossa frente na fila ficaram na dúvida se iam pra Tupiza ou Uyuni e, enquanto pensavam, o Uans chegou com o dinheiro na cara da vendedora que não hesitou – duas passagens pra Uyuni! Fizemos hora até a partida do trem e o Uans insistiu em ir na classe inferior porque ia apagar de sono. Enquanto isso, o Uans descobre que tinha deixado todos os textos que eu tinha impresso em BH e que tinham informações valiosas dos lugares pelos quais passaríamos, além do mapa da Argentina e de um ótimo guia sobre o Chile. Nos separamos e, já no vagão, ao meu lado um pai com um menino de uns 5-6 anos despedindo-se da mãe pela janela dizendo “Mamá, el corazón, la mitad!” me fez lembrar de casa. Durante a viagem em uma poltrona que não me cabia direito, assisti a muitos filmes ruins no DVD e me esforcei pra dormir e não ver o tempo passar. O trem tinha calefação e não sentimos a mudança de tempo lá fora. Avistamos da janela uma paisagem muito parecida com a Quebrada argentina, muito bonita. Chegamos em Uyuni às 23h30 e, num frio congelante (ficamos sabendo que estava fazendo -15º naquela noite), saímos pra procurar uma agência recomendada na internet e um hotel. Encontramos facilmente a nossa agência, mas todas estavam fechadas e o hotel mais barato ali perto oferecia água quente (num banheiro comunitário).