Diários de ônibus, trens e até caminhão...

A ideia de um blog surgiu da intenção de mostrar meu Diário de Bordo a todos os amigos e da impossibilidade de fazê-lo com a rapidez que eu gostaria. Vai ele agora entrar na rede!

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Local: Divinópolis, MG, Brazil

17.10.05

Dia 15 – sexta-feira 22/07



- Huaráz (dia 3: Pumapampa, fonte de água gaseificada, Laguna de Siete Colores, Pastoruri) -

O terceiro dia de passeio em Huaráz seria o Nevado de Pastoruri – que em verdade não é mais nevado –; a antiga estação de esqui está derretendo e hoje não é mais neve, mas gelo. De novo tomamos o café-da-manhã imperdível e saímos pra parada oficial do chá de coca (dessa vez mais agradável). Passamos pela região de Pumapampa, conhecemos a maior planta do mundo: Puya Raymondi – bromélias gigantes de até 12m de altura e que levam 100 anos para florescer –, tomamos um gole numa fonte de água gaseificada, passamos pelo mirante da lagoa de sete cores e vimos algumas pinturas de arte rupestre. O micro-ônibus nos deixou a 5200m de altitude e o guia disse que já éramos vencedores de estarmos ali e que se não quiséssemos chegar ao topo, tudo bem. Sem comentários pra ele! Alugamos botas impermeáveis (que, pelo tamanho apertado, quase necrosaram meus dedos) e iniciamos a subida. O início da caminhada é na pedra e os moradores locais oferecem mulas para dar uma força a quem precisa. Em seguida, devido ao acesso difícil, eles oferecem as costas pra carregar os turistas (até as crianças locais carregam filhos de turistas). Quem sobe sozinho tem a oportunidade de parar de vez em quando e olhar pra trás – uma vista sensacional dos outros nevados ao fundo e pequenas lagoas ao redor da subida. Logo quando chegamos à parte congelada, avistamos uma pequena lagoa que abria uma gruta no gelo. Entramos por ela e paramos um pouco abaixo, onde havia outra lagoa – uma das visões mais espetaculares de toda a viagem. No teto da gruta, várias camadas de gelo abertas, uma após a outra, até a última também aberta (uns 40cm de diâmetro), por onde se via o céu. Voltamos pra cima porque não teríamos muito tempo para o passeio e ainda tínhamos o topo pra alcançar. Depois do buraco no gelo que vimos desde aquela lagoa, ficamos cismados com todo lugar onde pisávamos, com medo de vazar em alguma daquelas galerias. O Uans, apressado, correu pra chegar logo no topo e eu fiquei tirando fotos de vários ângulos e paisagens. Num certo ponto lá encima, a neve acaba numa descida íngreme de uns 5m e de novo aparece a pedra, que vai até o cume. O Uans já estava do lado de lá e me disse que a descida até a pedra estava a uns 7m à minha direita. Fui procurá-la e, claro, não encontrei. Andei muito sempre achando o Uans maluco com seus 7m que eram na verdade 27m. Por fim, cheguei numa parte um pouco mais fácil de descer e impossível de subir de volta – claro que não pensei neste pequeno detalhe na hora de descer. Literalmente pulei na pedra lá embaixo e comecei a subi-la. Na metade do caminho, aparece o Uans lá na frente perguntando o que eu estava fazendo tão longe, a passagem era logo ali onde ele estava e eu abandonei minha subida aventureira, desci junto ao gelo e peguei a trilha certa. O Uans já estava voltando e dizendo que o guia chamava desesperado para o almoço. Perguntei se faltava muito até lá encima e ele disse “uns 30m”. Subi como se estivesse no nível do mar e o topo... incrível! A pedra se divide em V e dali se avista a cordilheira desde um lado até o outro, interminável. Lá embaixo, um desfiladeiro de não se imaginar quantas centenas de metros e, ao longo de todo o horizonte, as montanhas da Cordilheira dos Andes fazendo uma fila até não se poder mais ver. In-crí-vel! Estava sozinho ali no alto e fiquei ainda uns minutinhos curtindo aquele momento estirado numa pedra lisa bem na beirada do abismo. É indescritível a sensação de estar tão alto e diante daquela paisagem diferente de tudo que já vi, tanto ao vivo (claro) quanto em fotos ou filmagens. Preocupado com a pressa do guia, desci a pedra de volta como um louco e pra subir de novo pro gelo tive que dar um salto e literalmente me abraçar a ele pra conseguir chegar lá encima. Com a ajuda dos joelhos aquela subida ficou mais fácil e as luvas ficaram destruídas e, encima do gelo, a descida rápida deve ser atenta às possíveis galerias – pode-se ver e ouvir com nitidez a água que escorre por baixo de onde se pisa. Os tombos eram evitados com a mão esquerda por trás do corpo e, com isso, as luvas são ainda mais severamente castigadas. Num dos pulos, para não torcer o joelho na queda, dei outro pulo, dessa vez pra trás, que me virou de lado e me fez cair de costas num vão de uns 60cm. A vista das botas no ar e o céu muito azul no fundo me deu vontade de tirar uma foto, mas o atraso não deixou. Terminei a descida e, no micro-ônibus, todos esperamos até uma hora depois do combinado pra sair para esperar um dos caras que tinha também ido até o topo e que chegava com rasgos na perna da calça e mancando – nada grave, aparentemente. Foi um passeio muito bonito e muito cansativo também.

De volta à cidade, depois dos banhos, saímos pra comprar as camisas que não tínhamos comprado na noite anterior (umas sete pra cada), descarregar as fotos em CD, pegar informações de Cuzco na internet e mandar e-mails. Depois fomos jantar num outro restaurante também muito bom e, claro, com refrigerante gelado. De volta ao hotel, o Uans percebe que havia esquecido uma sacola com camisas e calças compradas numa loja em outra loja ao lado. Ele voltou até lá, mas às 23h30 já estava fechada. Isso atrasou nosso passeio do dia seguinte em 3h, porque era a única loja na cidade que não abria mais.