Diários de ônibus, trens e até caminhão...

A ideia de um blog surgiu da intenção de mostrar meu Diário de Bordo a todos os amigos e da impossibilidade de fazê-lo com a rapidez que eu gostaria. Vai ele agora entrar na rede!

Nome:
Local: Divinópolis, MG, Brazil

17.10.05

Dia 22 – sexta-feira 29/07


- La Paz-Santa Cruz de la Sierra – Sta Cruz-Puerto Quijarro (Trem da Morte) -

O trabalho psicológico depois de La Paz foi um dos maiores da minha vida e, até a chegada a Santa Cruz, já consegui ficar um pouco mais calmo. A viagem não foi nada agradável, não só pelo estresse do roubo, mas pela demora do motorista e as constantes paradas pra revista policial – estávamos especialmente preocupados com a chegada a Santa Cruz a tempo para a saída do trem, ou antes, a tempo pra comprar os tíquetes que poderiam acabar por causa da grande procura, comum nessa época do ano. Até nas descidas pra comer e tirar água dos joelhos no meio do mato, a sacola com as camisas estava comigo.

Chegamos finalmente a Sta Cruz não só a tempo pra comprar os tíquetes, mas pra almoçar, sempre com as mochilas amarradas a nós. Almoçamos mais ou menos às 11h30 e mal sabíamos que aquela era a última refeição até as 21h daquele dia! No trem, o nosso vagão era exclusivamente de brasileiros, inclusive com o casal de Florianópolis que tínhamos encontrado em Arica, o que ajudou muito a passar o tempo batendo papo e contando os apertos e aventuras da viagem de cada um. Nossa viagem ficou ainda mais valorizada depois de ouvir o quanto cada um tinha gastado e percorrido na sua. Nosso passeio superava o dos outros tanto em quilometragem quanto em paisagens e no pouco dinheiro gasto (não só proporcionalmente, mas em valores absolutos!), isso sem falar no fato de todos contarem que tinham passado mal de alguma forma durante aquele período.

O que mais incomoda no Trem da Morte são os vendedores, os mais ambulantes que já vi na vida. São muitos e andam quilômetros de lá pra cá com uma perseverança incomum com seus produtos nas mãos e esbarrando em quem podem enquanto passam gritando suas vendas. O bom é que, pelo menos de noite, eles dormem e deixam dormir. Como ficou dito, apenas às 21h, e quase desmaiando, paramos pra comer alguma coisa desde o almoço, isso literalmente, e como todas as paradas do trem, no meio do mato. Menos mal, porque, com pouca fome, não teria me aventurado a comer nada e, certamente, desmaiaria de fome de madrugada. Isso porque, embora famintos, não encontrávamos nada que estivesse à venda e que fosse confiável. Escolhemos um espetinho farto de uma carne que não reconhecemos de que fosse, mas que, naquela fome toda e com uma Coca estupidamente gelada (estávamos realmente perto do Brasil), ficou tão agradável ao paladar que não fomos capazes de discutir e só paramos depois do terceiro espetinho de cada um.