Diários de ônibus, trens e até caminhão...

A ideia de um blog surgiu da intenção de mostrar meu Diário de Bordo a todos os amigos e da impossibilidade de fazê-lo com a rapidez que eu gostaria. Vai ele agora entrar na rede!

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Local: Divinópolis, MG, Brazil

17.10.05

Dia 19 – terça-feira 26/07


- Ollanta-Águas Calientes, Águas Calientes-Machu Picchu, Machu Picchu, Machu Picchu-Águas Calientes, Águas Calientes -

Acordamos cedo (fizemos barulho e acordamos nosso amigo também), tomamos nosso café e saímos atrasados para o trem. Chegamos 5 minutos antes do horário e esperamos mais uns 15 até entrar. Tenho que registrar um fato que nos fez realmente acordar de tanto rir, antes de entrar. Esperávamos na fila e uma mulher – típica peruana –, que vendia umas coisas numa barraquinha totalmente improvisada, entregava um queijo pra uma de suas cinco filhas. Mas não foi simplesmente “entregar”, ela pegou o pedaço de queijo encima da toalhinha multicor – a mais predominante delas era o marrom, de sujeira – e, literalmente, lavou-o com uma água de uma cor aproximada que estava dentro de um balde ao lado e, depois disso, enxugou-o na mesma toalhinha antes de entregar à menina, que comeu com a melhor cara do mundo. Só depois de presenciar tudo aquilo em intensos silêncio e estupefação, percebi que o Uans fazia o mesmo e que já se voltava pra mim pra perguntar se eu tinha visto aquilo. Finalmente acordamos.

Dito isso, dentro do trem já tivemos uma vista ótima, uma prévia pra Machu Picchu, o rio Urubamba nos acompanha o tempo todo e as montanhas enormes isolam o lugar de qualquer coisa que lembre civilização; dava pra ver até algumas ruínas nas montanhas. Chegados a Águas Calientes sob um céu muito nublado, procuramos saber sobre como chegar à montanha velha e as opções eram: a pé (em uma hora e meia de subida), ou de ônibus, a US$6,00 pra cada e, com isso, não quisemos nem saber quanto era o preço do trem. Fomos a pé mesmo. Valeu muito a pena, a vista é maravilhosa; dá pra ver uma parte de Wayna Picchu (“Montanha Jovem”), que é aquela clássica das fotos. Além disso, caminhamos literalmente no meio do mato com pequenos intervalos em estrada de chão, caminho dos ônibus, e dá tempo de tirar água dos joelhos confortavelmente. Mas nos deparamos mais tarde na subida com o melhor: encontramos com um mineiro de BH que fazia Direito na UFMG e que saía do Parque com a namorada pra não perder o ônibus que já saía de Águas Calientes e nos vendeu seus tíquetes de entrada para estudante por um preço melhor. Chegamos lá encima em uma hora, encharcados de suor por causa da umidade e, ao ver o preço da comida na lanchonete luxuosa na entrada, não quisemos nem ver o restaurante. Dá-lhe Oreo recheado e um chocolate chamado D’onoffrio, nosso mais novo ídolo, da Nestlé! Enquanto comíamos antes de entrar, começou uma chuva fina que acabou engrossando depois. Eis que a roupa impermeável me salva a vida mais uma vez (foi a única chuva da viagem, mas ela já tinha me salvado do frio constante até ali).

Chuva, e logo hoje, em Machu Picchu! Entramos no Parque com os tais tíquetes sem o menor problema (o cara nem olhou a carteirinha de estudante do Uans) e, debaixo de chuva já forte, não sabíamos nem por onde começar, mas fui acompanhando um pessoal com um guia pra pegar as informações de rabeira. Entramos numa sala fechada e, enquanto ele explicava para seus clientes a história do lugar, o Uans e eu fomos tirar fotos. Pisamos num lugar proibido e ele nos pediu pra sair de lá, mas acontece que o Uans estava fazendo uma filmagem naquela hora e não queria interromper, então fez que não ouviu e o guia ficou muito irritado, dizendo que não respeitávamos o lugar, que o Uans não tinha educação, aí ele é quem ficou irritado e respondendo o cara até sairmos de lá. Lá se vai nosso guia! Começamos a andar por ali e entramos numa trilhazinha que fazia uma pequena curva pra esquerda à frente e, quando chegamos lá, me senti no filme Diários de motocicleta, quando os personagens dão de cara com a cidade vista inteira lá de cima – foi exatamente igual, é impossível não fazer o clássico “um minuto de silêncio” ao se deparar com aquilo tudo... Percebemos logo que sem guia perderíamos quase tudo que havia pra se ver ali. Fomos procurar outro numa turma maior pra gente se misturar, mas o cara logo nos achou porque tinha vários penetras além de nós. Fui obrigado a voltar na entrada pra contratar um pra gente – US$30,00! Sem dúvida e de longe o lugar mais caro de toda a viagem, uma exploração absurda. O bom é que vimos tudo e até a chuva colaborou, o tempo abriu um pouco pra que pudéssemos ver tudo sem neblina. Só não subimos a Wayna Picchu, por estar fechada a passagem naquele horário, e a nossa guia só não nos disse, como tínhamos sido informados de que era comum como forma de endeusar a civilização, que os incas faziam sacrifícios também de humanos, além dos de animais. A paisagem é maravilhosa, não só lá, mas tudo ao redor, e vale muito a pena conhecer; a cultura é também interessante, mas pra quem chegava de Huaráz, tendo visitado as ruínas do templo de Chavín, nem se compara. Parecia que a chuva entendia o nosso lado, parou só enquanto a gente estava lá encima e, na hora de descer, ela voltou com toda a força. Claro que descemos a pé também, não suportávamos mais pagar caro pra tudo naquele lugar. Uma hora depois estávamos de volta a Águas Calientes e fomos procurar, ainda debaixo de chuva forte, um hotel com água realmente quente. Achamos um com um preço legal e banheiro no quarto (o único na viagem!). De banho tomado, fomos jantar – mesmo menu, o Uans não se arriscava em nada diferente. Andei mais um bocado pra achar nossa Coca gelada (a essa altura já não pedíamos mais permissão, simplesmente o Uans sentava e eu ia andar pra achar o refrigerante gelado de dois litros em outro lugar) e comemos muito mesmo, como o usual. Andamos mais um pouco, comprei um pingente e o Uans comprou umas lembranças, depois passeamos pela cidade, que é bastante bonita, e botamos defeito na falta de preocupação com a arquitetura, com a recepção aos turistas e também no atendimento: nosso chocolate preferido, o D’onoffrio, custava 5 Soles numa tenda na beira da linha (literalmente na beira) e 2 Soles na tenda imediatamente ao lado, a um passo lateral dela!

Voltamos pro hotel mais tarde e fui dormir. O Uans queria tomar outro banho, mas a água já estava gelada (detalhe: e a conta paga, claro). Sai ele pra reclamar e dá de cara com um senhor que reclamava em inglês e queria botar o hotel abaixo pelo mesmo problema. O Uans desceu pra conversar com a mulher, que se esquivava a todo custo e, depois de muito tentar, conseguiu convencê-la a pelo menos ir ao nosso quarto pra ver. Ela desceu depois de dizer que ligaria a resistência e que em uma hora e meia a água estaria quente – só que nisso já eram 22h! O Uans resolveu dormir mas colocou o relógio pra despertar às 23h30, estava resolvido a tomar outro banho. Mas quem acordou às 23h30 fui eu, e só pra desligar o despertador logo em seguida.